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"Players lose you games, not tactics. There's so much crap talked about tactics by people who barely know how to win at dominoes." - Brian Clough
Uns dias após a nossa vitória no campeonato escrevi este texto. Confessava a minha falta de euforia e um leve desencanto com o nosso futebol
Ontem foi com um misto de incredulidade e de desilusão que assisti ao culminar da novela da renovação de Jorge Jesus.
A minha desilusão não ê tanto com o Benfica (mas já lá vamos) mas sim com a opção de Jesus, o qual tinha em conta como uma pessoa inteligente. Os valores monetários em cima da mesa não explicam tudo.
Ficaria desiludido com Jesus se a opção fosse um Valência, um Milan ou um Zenit da vida, mas acabaria por entender. Esta opção pelo Sporting comporta todo um diferente leque de responsabilidades que me parece que Jesus não analisou. Começando pelas próprias declarações em que afirmava (e fez capa de jornais) relativamente á possibilidade de treinar outro clube em Portugal (claro que o fez quando se sentiu com a corda na garganta) e terminando no simples facto de que a sua vida pessoal nunca mais será a mesma. Vai ter de estar preparado para os piores insultos em qualquer situação particular e figurará na galeria dos párias do Sport Lisboa e Benfica, ao lado de nomes consagrados como Pacheco ou Sousa em vez de receber as honras que merece pelo seu excelente trabalho na Luz. Depois não sei se Jesus está preparado para o tipo de regime napoleónico de Alvalade. E não sei se irá perceber que foi a primeira bala de canhão disparada na guerra aberta criada por Napoleão de Carvalho, mas para isso já me estou a marimbar. Que corra especialmente mal é o meu mais profundo desejo.
Pessoalmente sempre admirei o trabalho de Jesus desde os seus tempos em Guimarães ou Belém. Foi o melhor treinador que vi na Luz e sempre desejei que ficasse o máximo de tempo possível na Luz. Se o corte seria um dia inevitável nunca previ que fosse desta forma. No entanto, e admitindo que isto servirá para um posterior cerrar de fileiras nas hostes encarnadas (após o soco no estômago) acredito que o trabalho acabou de ficar um pouco menos difícil para o sucessor. Seja ele o anunciado Rui Vitória ou quem sabe Marco Silva?
Finalmente a administração do Benfica. Este será o principal desafio de Vieira nos próximos tempos. Desconheço a forma como negociou a renovação com Jesus (e entretanto já começou o jogo do empurra para desculpabilizar o treinador pela sua opção atribuindo o ónus ao presidente) mas uma coisa não me vou esquecer: foi Vieira quem manteve Jesus quando 90% do universo benfiquista o queria fora da Luz. Se há coisa que a vida me ensinou (especialmente no mundo da bola) ê que as boas acções acabam por ter boa sorte (e o inverso). Vieira merece neste momento a sua sorte. Se foi a “estrutura” a criar Jesus se foi Jesus a criar a “estrutura” os próximos tempos o dirão.
Ontem passei a noite no cinema. A meio fomos surpreendidos pela noticia. Fui para casa e no trajecto o noticiário da meia noite da TSF confirmava a noticia. Entro no Facebook e no mural de um dos meus melhores amigos (ele próprio uma “vitima” do mundo da bola) rezava algo como " Foram os Verões quentes que nos tornaram enormes". Relaxei e dormi descansado.
Carrega Benfica !!!
PS: Vai aparecer a pior espécie de personagem, aquele que vai dizer “Eu tinha razão, o Jesus não prestava” ou outras também já recorrentes, as que esperam que o Benfica perca para culpabilizar a direcção do Clube pela saída do treinador (com a cereja a ser o sucesso do mesmo para lá da muralha da Segunda Circular). Ambos merecem a minha total indiferença. Não me apetece julgar o carácter de Jesus (nem tenho qualquer aptidão para isso) nem me apetece que o Benfica não ganhe. Gostava mesmo era de renovar já o meu Red Pass.
O Benfica festejou no passado domingo o 34º titulo da sua história. Eu festejei o meu 6º como adepto de estádio. Em 90/91 estive em alguns jogos na Luz. Na velhinha Luz dos 120 mil não foi sequer difícil encontrar um bilhete para o jogo da “festa” com o Beira Mar. Tinha 13 anos e o meu pai fez-me o favor de me “criar” o bichinho do Estádio da Luz. Lembro-me bem da luta do Rui Águas com o Domingos para ser o melhor marcador do Campeonato (e foi…nesse jogo) e das bandeiras e cor que no anel inferior do lado oposto ao onde me encontrava (estava no 3º anel) brilhavam naquela tarde de sol. Era o antigo sector dos Diabos na Luz. Seguiu-se o titulo de 93/94. O do mítico 3-6 de Alvalade (o meu primeiro derby fora de casa) e da equipa “esfrangalhada” pelo verão quente que levou o Paulo Sousa e o Pacheco (e quase o JVP) para Alvalade. Foi um campeonato mítico, de raça e querer… Devo ter visto quase todos os jogos na Luz (no terceiro anel, no antigo sector da Raça Benfiquista) e fora na zona de Lisboa só falhei Setúbal (na tarde mágica do Yekini). A “febre de Estádio” já estava a correr nas veias. A partir de 94 comecei a seguir o Benfica com frequência fora de portas. E tivemos de esperar mais de 10 anos até ver um novo título: 2004/2005. O de Trapattoni (já com Luís Filipe Vieira ao leme). O título mais estranho da minha vida. A equipa não jogava particularmente bem, não tinha grandes jogadores (tirando o Simão, Luisão e pouco mais) e foram diversos os jogos com o credo na boca… O jogo com o Sporting na Luz foi dos mais míticos da minha vida no nosso estádio e foi o nosso momento “Kelvin” antes dos outros…
Mas o que mais me faz pensar no hiato desses dois títulos (93/94 & 2004/2005) foi a forma como o futebol, a Luz e o apoio mudou. Os Estádios do Euro2004 mudaram a forma como íamos à bola. Mudaram a paisagem, a frequência, o conforto e sobretudo o apoio das bancadas. Todos nos “aburguesamos” e cada vez menos pessoas viam o futebol de pé e a cantar. Deixou-se de praticamente ver bandeiras (sem ser as das claques… e mesmo essas são cada vez menos) e passou-se a ver muito mais gente a usar as camisolas dos clubes (que devem custar em média uns 75€). A maneira de ir à bola mudou e todos mudámos com ela. Venderam-nos a ilusão de estádios com mais conforto e funcionais como algo que iria melhorar a assistência das pessoas e a presença das famílias. A verdade é que as assistências nos novos estádios (e a própria capacidade dos mesmos) dos “grandes” tem vindo a diminuir (mesmo com todas as borlas possíveis e imaginárias) e chegou-se ao cúmulo de assistir a duas meias finais europeias numa Luz que não estava cheia. Inclusive o Benfica devolveu à UEFA bilhetes que não conseguiu vender para duas finais europeias. Amesterdão e Turim. E o argumento das famílias irem ao futebol esbarra logo nos preços dos jogos… Pelo menos para uma família mais “popular”…
Voltemos à marcha dos títulos que me estou já a dispersar.
Entra Jorge Jesus no Benfica e a marcha dos troféus dispara. Foram (em 6 anos) três títulos de campeão e 9 troféus no total (que podem ser 10 em caso de conquista da Taça da Liga na próxima semana). Deveriam ter sido 4 e podíamos estar a festejar o almejado tri-campeonato neste momento não fosse aquele maldito minuto 92 no Dragão, mas estes últimos anos de Benfica têm sido mais positivos que negativos. Agora o “natural” é ganhar e o “antinatura” é perder. Algo que mudou desde que Jesus chegou à Luz e que acredito que coincida com um maior profissionalismo da estrutura do Benfica (algo que se sente também nas modalidades de pavilhão) do que mérito exclusivo do treinador (o qual admiro e espero que renove contracto).
Mas o que mais me perturba pessoalmente é o facto de que os meus festejos de 2009/10, 2013/14 & 2014/15 não conseguiram arrancar da minha pessoa aquela emoção que senti em épocas anteriores (lembro-me de chorar agarrado a um megafone no Bessa no jogo do titulo de 2005). O primeiro de Jesus foi apenas conquistado na última jornada frente ao Rio Ave. O que me recordo desse jogo não foram os marcadores dos golos ou qualquer cena espectacular nas bancadas. Lembro-me de um frango do Quim e de pessoas terem de abandonar a bancada onde eu estava por estarem a levar com tochas e petardos em cima… Adeptos do Benfica. Acabei o jogo a festejar com os amigos habituais mas essa imagem não consigo apagar. Foi também o inicio do “Marquês” como mega-show organizado. Chega-se a 2013/14 e foi um ano sofrido. As feridas de tudo perdermos no ano anterior ainda demoraram a sarar e talvez o jogo mais espectacular dessa temporada tenha sido a 2ª mão da Taça com o Porto na Luz. Que jogo. Que Benfica. A conquista da Liga chegou naturalmente a algumas jornadas do fim. Acabei a noite tranquilamente com alguns amigos fora da euforia do Marquês. Fomos já campeões ao Dragão. Não fui a esse jogo. Algo começava a mexer com o meu subconsciente que me incomodava. A ideia de passar um domingo à noite (véspera de trabalho) num comboio a caminho de Lisboa deixou de me parecer atractiva. Para mim a minha época tinha ficado fechada em Turim na meia final contra a Juventus. Foi das páginas mais emocionais e brilhantes da minha história como adepto de Estádio do Benfica. Senti que a partir desse momento nada mais chegaria a esse nível. Ainda o sinto.
Chegámos a 2014/2015. Não segui tanto o Benfica como em anos anteriores. Não senti aquele chamamento que costumava sentir nos inícios de épocas. Não sei se for por ir de férias e perder o inicio da época, se por motivos pessoais ou mesmo por me sentir desiludido com uma situação mais especifica. O Benfica tinha conquistado tudo (menos Liga Europa) e supostamente deveria sentir uma motivação especial. O Desafio seria o Bi-campeonato e uma melhor carreira europeia. Se o primeiro foi atingido (com justiça mas sem aquele brilhantismo do ano anterior) o segundo ficou muito aquém das expectativas. Ao menos serviu-me para poupar algum dinheiro com a ausência de viagens europeias. Irão certamente dar jeito para as férias que bem merecemos.
Fui a poucos jogos fora de Lisboa (Coimbra, Barcelos e Guimarães) mas em casa apenas falhei 2. Procurei em toda a época aquela “faísca” que despertava o seguir do Benfica. Não a encontrei. Acho que ainda está algures perdida em Turim.
Pelo meio da época fiz duas jornadas europeias. Uma “tour” na Alemanha com alguns amigos mais próximos e ao Dragão para estar com amigos do FC Bayern numa jornada “negra” para eles em termos desportivos mas que em muito me enriqueceu em termos de adeptos de Estádio. O “frio” povo alemão dá-nos lições de apoio fervoroso. E se ver in loco o apoio total dos adeptos do Bayern no Dragão a perder 3-1 (e quando digo total é total…não apenas os “ultras”) a experiencia que assistimos em Dortmund e Hamburgo alterou para todo o sempre a forma como quero ver futebol. Tudo que seja menos que isso é pouco. Os “sabichões” dos clubes e da Liga Portuguesa (e alguma imprensa) que tanto gostam de apregoar o modelo Inglês deveriam fazer uma pequena viagem de 2 semanas a Inglaterra e depois à Alemanha. Sintam o ambiente de Estádio com gente sentada em cadeiras de plástico a pagar preços caríssimos por oposição a bancadas com milhares de pessoas de pé. Sem cadeiras, sem vergonha de usar bandeiras ou cantar e a pagar preços que me envergonham como português e adepto de bola. Façam isso e avaliem que tipo de ambiente preferem.
Volto a Portugal.
Depois de Barcelos e do jogo (fraquinho) frente ao Porto seguiu-se o grande desafio do final da época: Guimarães. Era a derradeira possibilidade (dentro do mundo das possibilidades num desporto como o futebol) de o Benfica perder esta Liga. Frustrou-me não ter sequer celebrado um golo do Benfica em Guimarães. Tive de festejar um do Belenenses e celebrar o meu 6º campeonato na vida de adepto de Estádio na companhia dos meus amigos da bola. Poucos lá faltavam. Euforia comedida e a mesma sensação de perca da tal “faísca”. Sim é óptimo vencer. É bom festejar. É um momento único o fazer em Guimarães (melhor só em Alvalade ou Dragão) mas o tal “click” não acontece. Interrogo-me porquê e acho que encontro parte da resposta ao almoço com um amigo meu (que foi comigo a Guimarães) na terça-feira seguinte. Talvez estejas a ficar velho. Talvez não te tenhas adaptado ao fenómeno em que de anos em que discutias estandartes, bandeiras, coreografias em fotos com os amigos passaste a fazê-lo cada vez menos. Porque tens menos amigos interessados nisso e mais em marcas de roupa ou em vídeos de violência gratuita e idiota. Percebes que ires ao futebol com os teus filhos e veres imagens de um pai a ser agredido selvaticamente por um oficial da policia sem qualquer motivo que o justifique é errado. Que pessoas a roubar um armazém de equipamentos de desporto como se tivessem nos saldos da Zara com a maior calma e falta de vergonha possível não é algo com piada. Felizmente não eram de nenhuma claque para pena de muita opinião pública ou da comunicação social. Percebes que algo está errado quando as imagens dos festejos são ofuscadas por gente a fazer merda. Fardados ou à civil. Percebes que tens o teu mundo ao contrário quando já te custa separar os bons dos maus.
Percebes que ou isto dá uma grande volta ou não há volta a dar…
Desconheço o que a nova época irá trazer para o Benfica. A continuação do treinador é uma incógnita. De alguns jogadores também. Há um novo patrocinador nas camisolas e até estas parecem fugir à habitual polémica das cores ou do design. Almeja-se um Tri-campeonato. Eu apenas almejo voltar a Turim.
Carrega Benfica !!!
Costumo avaliar o grau de satisfação pessoal de uma viagem pela forma como encaro o regresso a casa. Em geral custa-me sempre atravessar os portões na Portela e chegar a Lisboa, não por não adorar a cidade ou por não ter coisas em Portugal que me “prendam”, mas das coisas que me dão mais prazer no mundo é o simples acto de viajar. Com o advento das companhias low-cost tornou-se mais democrático e obviamente fácil poder desenvolver a pequena “tour” que com alguns amigos fiz na passada semana. Se se as tarifas aéreas facilitam a operação não quer dizer que a mesma seja um sucesso em termos de satisfação, mas esta foi. Quando se viaja com alguns dos melhores amigos para um pais do qual se gosta para fazer o que se gosta e visitar quem nos recebe com família só podemos ter um sentimento de tentar repetir ao máximo todas essas sensações, perseguir aquele click que sabemos que nunca iremos voltar a ter. Tenho plena consciência disso e sei que irei voltar aos mesmos sítios e nunca será igual… mas aposto que continuará a ser mágico.
Tínhamos planeado esta viagem há algum tempo. O objectivo principal era o Revierderby que opunha o Borussia Dortmund com o Schalke04, mas uma conjugação de sorte permitiu ainda juntar o derby de Essen que opunha o Rot Weiss Essen (campeão da Alemanha em 1955) e o FC Kray e o Sankt Pauli vs Aue no penúltimo dia da nossa visita. 5 dias na Alemanha e 3 jogos de futebol. Melhor era quase impossível.
Dia -1
Depois de uma chegada ainda ensonada à Portela (isto dos voos baratos tem estes “problemas”) e de uma viagem de pouco menos de 2 horas o primeiro impacto de Hamburgo está relacionado com Lisboa. Para apanhar o nosso avião de regresso à capital estavam largas dezenas de adeptos do Wolfsburg que sorriam aos nossos desejos de “boa sorte para logo”. Penso que perceberam de que parte da cidade eramos sem qualquer problema.
Carro alugado e rápida viagem até ao centro de Hamburgo. Ao centro “real” de Hamburgo. O bairro de Sankt Pauli. No percurso o cenário esperado numa cidade como Hamburgo. Sinais de ambos os clubes (do HSV mais na zona próxima ao aeroporto e do FCSP mais na zona central), bastante arte urbana e sinais invadidos por autocolantes. A maioria do FCSP mas diversos clubes europeus também por lá andavam. Primeiras fotos ao Millerntor, um pequeno passeio na Reeperbahn e um rápido almoço antes de galgarmos os 340 kms que distanciam as cidades de Hamburgo e Dortmund. Viagem longa e cansativa compensada pela forma como fomos recebidos na cidade do BVB pelos nossos anfitriões. E sim, a cidade é do BVB. Se dúvidas houvessem ficariam automaticamente dissipadas ao atravessas as primeiras ruas, entrar nos primeiros cafés / restaurantes ou nos hotéis. Praticamente todos os espaços estão decorados com as cores e símbolos do Borussia. Não há qualquer dúvida acerca de que equipa a cidade apoia. E não há qualquer dúvida qual é o maior símbolo da cidade. Dortmund e o seu Borussia são apenas uma entidade.
Dia 1
Tínhamos um encontro com o nosso anfitrião às 11h. Como bons portugueses chegámos eram 11h15. Era sexta-feira mas nas ruas já se viam pessoas de cachecol e camisolas para o jogo no dia seguinte. Tínhamos planeado uma visita a ambos os Estádios do Dortmund (o Westfalenstadion e o velhinho – e lindíssimo - Rote Erde mesmo ao lado) e ao Borussuem.
Sentia-se no ar a véspera de um jogo grande. Tudo a ser preparado dentro e fora do Estádio. A nossa visita à imponente Sudtribune (25.000 lugares de pé, a maior bancada do estilo na Europa) e a subida desde o primeiro degrau até ao último só foi suplantada pelo vislumbrar de referências ao Benfica no museu do Borussia. Dos poucos clubes Europeus que estão referenciados. Português é o único.
Um pequeno apontamento define como a Alemanha olha para os adeptos de futebol. O sector visitante tem um palanque improvisado (à semelhança do local) para permitir que o apoio seja melhor. Repito: o sector visitante !!!
Um rápido almoço num dos restaurantes do estádio e o regresso até ao centro da cidade onde nos aconselharam alguns pontos de visita antes de novo encontro às 18h para o primeiro jogo da viagem. Esperava-nos o Derby de Essen.
Cerca de 50 minutos foi quanto demorámos da estação central de Dortmund até Essen-Bergeborbeck e mais uns minutos a pé até ao estádio, o moderno Stadion Essen com capacidade para 20.000 pessoas. Se ficámos um pouco desiludidos com o número de adeptos do FC Kray (não chegavam às 3 centenas) por outro lado a moldura na curva de apoio ao Essen era imponente. Praticamente cheia (total de pessoas no Estádio rondariam os 9000 – na quarta divisão alemã numa sexta à noite) e tudo de pé e a apoiar a equipa.
Novos, velhos, mulheres, crianças e alguns “turistas” (como nós e uns ingleses que também iriam ao BvB vs Schalke do dia seguinte). O jogo foi interessante e apesar dos esforços do Essen (a melhor equipa em capo e em lugar de promoção à 3ª divisão) a vitória sorriu aos forasteiros (que rapidamente ergueram uma frase a referir que era a 2ª vitoria em 2 derby’s deste ano) mas o principal destaque deste jogo foi a pequena conversa que tive com o inglês que conhecemos.
Como fan do Forest que era a conversa começou obviamente pelo Brian Clough e o despedimento do Stuart Pearce (que muito lhes custou) e os problemas financeiros do seu clube natal (que à semelhança do Benfica tem 2 Taças dos Campeões Europeus) mas rapidamente derivou para a venda da alma do Futebol Inglês (com o advento da Premier League) e para as comparações entre o que se passava em Inglaterra e na Alemanha. Obviamente os Alemães goleavam. Bancadas de pé, cerveja no estádio, horários bem escalonados, preços impecáveis e paixão na bancada por oposição às cada vez mais restritiva Premier League cheia de leis idiotas e preços que envergonham quem alguma vez chamou ao futebol britânico “the people’s game”. Faço ideia o que sentiria este meu novo amigo acerca do nosso jogo de Domingo… Despedimo-nos com um convite para visitar o City Ground logo que possível. Assim faremos.
Outro facto que me saltou à vista ao desfolhar o programa de jogo. Na 4ª divisão Alemã, o Rot-Weiss Essen tem uma média de assistência em casa de 9000 adeptos e fora… de 5000. Números impressionantes para qualquer clube Português.
Regresso a casa mas não sem antes uma pequena paragem num bar de adeptos locais para uma wurst e bebidas. Para alguém foram demasiadas, mas nada que não se culpasse a Deutsch Bahn pelo constante oscilar do comboio. Estávamos de regresso a Dortmund e a primeira etapa estava completa. O dia seguinte seria grande.
Dia 2
Começamos o dia com um típico pequeno-almoço preparado pelo nosso anfitrião (não sei como o conseguiu após a regada noite anterior mas foi impressionante) antes de um curto caminho a pé até ao Westfalenstadion. Era o dia do grande jogo.
O estádio apresentava todas as característica habituais de um dia destes. Um mar de gente amarela (mas alguns de azul pelo meio sem qualquer problema) e um forte aparato policial que incluía carros de combate e os habituais esquadrões de cavalaria. Estabelecemos como base o Biergarten do Rote Erde e por lá ficámos até perto da hora do jogo (ou seja…1h antes) enquanto conversávamos e observamos as pequenas diferenças entre o publico português e o adepto alemão. Pelo meio chegou mais um reforço para a nossa pandilha. Um velho amigo português (nascido na Alemanha) com season ticket do Borussia e Benfiquista. Estávamos em casa.
Entrámos para a SudTribune e o impacto é algo de inesquecível. Se a bancada vazia é imponente, cheia é um mar de gente. Uma parede. Faltava pouco menos de 1h para o jogo e estava praticamente cheia. Uma estranha mecânica em que cada um sabe o seu lugar e constantes viagens entre o mesmo e a busca de cerveja não provoca qualquer tipo de confronto ou perturbação a quem tem de se desviar (não sei como é humanamente possível naquela massa). Estarão todos certamente habituados a toda esta experiência. Respira-se confiança.
O jogo começa e o Borussia domina por completo o seu adversário. Nas bancadas a Sudtribune apoia incessantemente e provoca os seus rivais com uma exibição de artigos conquistados aos adeptos do Schalke. Faixas, bandeiras, panos, t shirts e bonecas insufláveis equipadas pelas cores do Schalke. Com pena nossa as habituais coreografias brutais foram substituídas por esta improvisação. Do lado do Schalke apenas apoio vocal. A abertura de pirotecnia no ano anterior provocou uma proibição de bandeiras. Incrível como necessitou de esperar até aos 78 minutos para marcar o primeiro dos três golos com que brindou o arqui-rival. Podiam ter sido 5 ou 6 sem qualquer problema. Depois de perdido na primeira metade do campeonato… o Borussia está de volta. O jogo termina e não vejo pressa de ninguém em ir para os transportes ou para a Sportv. A equipa dirige-se à Sudtribune e festeja. Dança, senta-se e levanta-se aos pulos, sente-se uma comunhão entre plantel e adeptos que nunca vi antes em qualquer grande clube português. Passados largos minutos lá abandonámos a bancada. Passamos pela “zona mista” do Estádio onde vemos os jogadores do Dortmund e Schalke a conversar e ao sairmos do estádio cruzamo-nos com o Jurgen Klopp e o Di Mateo, que no sentido inverso ao nosso caminhavam lado a lado em amena cavaqueira. Igual a cá certo?
De regresso ao Biergarten e o sol já se começava a pôr mas a festa continuava em redor do estádio. Vamos recebendo as notícias dos golos do Benfica (goleada por 6-0 ao Estoril) e fazemos a nossa festa dentro da festa. Um par de horas depois (e feitas as despedidas aos velhos e novos amigos) estávamos de volta à estrada para o último capítulo da nossa saga: Hamburgo.
Dia 3
Depois da chegada nocturna a Hamburgo nada melhor que um acordar cedo (6h30) para ir passear sob a chuva fria do norte da Alemanha. Uma curta viagem de autocarro levou-nos do nosso hotel até ao Fishmarkt. Tinhamos boas referências relativamente a este ponto de visita e não nos defraudamos. O enorme mercado de peixe e vegetais é completado pelo edifício do período da revolução industrial onde é o “epicentro” do culto do Fishmarkt: banda a tocar, pessoas a comer hamburguer’s de peixe e um clima de festa pouco habitual às 8h30 da manhã de um domingo. Local de turistas e de fim de noite para locais obviamente. Alguns adeptos ao Aue misturavam-se na multidão. Era dia de bola.
Depois da visita ao mercado percorremos as ruas limítrofes à zona ribeirinha de Hamburgo e sem saber muito bem como deparamo-nos com nomes familiares… Estamos numa rua em que todos os restaurantes têm nomes portugueses (a excepção é o café No Name !!!!) e os produtos anunciados nas montras vão desde “tosta mista” ao “pastel de nata” passando pela “sagres” e a “meia de leite”. E assim foi num café português (com adereços do Benfica e da Selecção) que tomámos o nosso pequeno almoço. Impecável.
Mais umas ruas, praças e igrejas visitadas e estamos no parque de Planten un Blomen , vizinho do Millerntor e do espartano Heiligengeistfeld Bunker, uma herança da II Guerra Mundial. Faltavam cerca de 2h para o jogo (era às 13h30) e tirando pequenos grupos de adeptos do Aue não via ninguém na rua que sugerisse que houvesse jogo de futebol na zona. Muito menos que os quase 25.000 lugares do Millerntor fossem totalmente ocupados. Dirigimo-nos ao ponto de encontro combinado com os nossos anfitriões locais (o afamado pub Jolly Roger) e fomos recebidos como “clientes habituais” do espaço. Ninguém nos olhou de lado ou suspeitou da nossa presença até encontrarmos as pessoas que nos aguardavam. Começávamos a sentir o espírito de Sankt Pauli ali naquele pequeno momento. Sentados à roda de uma mesa foi-nos apresentado um português (mais um benfiquista) membro dos Ultras Sankt Pauli. Portugal, Hamburgo, o Benfica e o Sankt Pauli, o momento da equipa e dos ultras e um “curso rápido” do que era a filosofia daquela gente. Receberem bem quem vem por bem. Independentemente da cor ou credo. É assim o “estilo” Sankt Pauli.
Ainda não convencido que o jogo teria lotação esgotada (se bem que alguns de nós iriam entrar com season tickets de outro pessoal devido à escassez de bilhetes) lá nos metemos em marcha para o estádio e aí percebi tudo… Do lado oposto à Budapesterstrasse fica o parking e o grosso dos adeptos do Pauli estava ai. E tudo o que sempre esperávamos encontrar também. Estavam lá os punks e os velhos marinheiros, estavam os “Kutte” cheios de estampas e estava um estádio modernizado (ainda não completo) mas o ar a futebol à antiga. Nada de lojas do clube nas quais só para entrar são 45 minutos (em Inglaterra é o costume) mas sim o Fanladen.
Projecto com mais de 20 anos criado para ajudar os adeptos nas deslocações mas hoje uma instituição dentro do clube. Entramos e estamos perante um cenário impossível de reproduzir em Portugal. O simples facto de a venda de fanzines / autocolantes / livros ser feito na base da “honesty box” (retirar das prateleiras e colocar numa caixa o valor correspondente) arrancou-me risos só de imaginar um qualquer grupo português que usasse esse sistema… até a caixa das moedas iria desaparecer ao final de um dia. Mas o Fanladen não é apenas uma loja. É a loja, serve refeições, serve de armazém de bandeiras e tarjas (dos ultras da curva e do grupo que ocupa a bancada central) e até fraldas lá vimos mudar. É o “clube” dentro do Clube. É a “alma” do culto do St. Pauli.
Visito a central de uma ponta à outra e vejo dezenas de pinturas com icons e palavras de ordem. Tudo em redor do mesmo: tolerância, integração, não à descriminação racial e sexual. Chego ao fim da “visita” e vejo alguém de fato de treino animando a bancada como um louco. Pergunto quem é (esperando uma resposta como “é o nosso speaker”). A resposta deixa-me sem palavras “É o nosso treinador”
Ocupamos os nossos lugares na bancada e aos primeiros acordes de “Hells Bells” (a equipa do FCSP entra em campo com esse som) sinto um arrepio. Preparo-me para assistir a algo que pensava já não existir. Toca a música, entram as equipas. Dezenas de bandeiras na curva e na central. Uma nuvem de papelinhos invade o ar e ao meu lado um senhor de avançada idade levanta no ar uma bóia marítima pintada de castanho e branco e dizendo “Sankt Pauli – Hamburg” . O Millerntor estava apresentado.
O jogo começa e o apoio é constante (à semelhança de ambos os jogos vistos anteriormente). Os ultras dominam as vagas de cânticos mas na central dão réplica e épico o momento em que é apontado um canto e tiram as chaves do bolso para fazer um efeito sonoro. Uma tradição por aqui. Nunca vi algo semelhante anteriormente.
Do lado ao Aue uma boa surpresa. Cerca de 1000 adeptos marcaram presença e apoio. Uma cidade a mais de 500 kms de distância. Fantástico
A equipa do FCSP encontra-se no último lugar da 2 Bundesliga e pelo que vi deste jogo muito dificilmente escaparam à descida. Existe vontade mas a falta de qualidade é preocupante. Mas se isso é suficiente em Portugal para afastar as pessoas do futebol, na Alemanha o estádio está cheio e o apoio dura 90 minutos. O jogo termina com um sempre desagradável 0-0. Não vejo protestos contra a equipa mas sim um silêncio sepulcral nas bancadas. Ou muito me engano ou será assim no último jogo da temporada.
Voltamos a passar no Fanladen e no Jolly Roger e percorremos algumas ruas do mítico bairro antes do almoço / jantar na companhia dos nossos amigos. Umas pequenas lições de história de luta social do bairro e as despedidas (um até breve) dos nossos anfitriões. O regresso ao hotel e vencido pelo cansaço do dia optei por dormir enquanto os meus restantes companheiros / as optaram por procurar um streaming para assistir ao Porto – Sporting. Tempo perdido :-)
Dia 3+1
Chegou o dia do regresso. Cedo abandonámos o hotel e em poucos minutos estávamos na Speicherstadt, a cidade de armazéns nos canais que me despoletou desejos de visita desde que assisti ao Soul Kitchen há uns anos atrás. Zona espectacular que merece uma visita para quem se desloque a Hamburgo. Mais referências a Portugal. Seja no nome das Praças e Ruas (Vasco da Gama aparece referido) ou através de uma instalação da Hamburg Opera com sons de Marisa. Regresso ao carro e atravessamos as ruas da cidade pela última vez em direcção ao aeroporto. Um pequeno atraso no voo mas Lisboa chega em 3h. Recebe-nos o sol que nos havia abraçado em Dortmund mas abandonado em Hamburgo.
Volto para casa sem vontade de fazer algo ou sequer falar . Fico sempre assim após viagens marcantes. É o meu momento de depressão. Passado umas horas ligo a tv e vejo o resumo de um Académica –Penafiel (?!?!) com o estádio de Coimbra completamente vazio. Será possível obrigar os nossos dirigentes a irem passar 6 meses à Bundesliga? E criar projectos como o Fanladen ou o Fanabteilung em Dortmund? E gerar movimentos de adeptos que em vez de se preocuparem em garantir os seus bilhetes (ou aproveitar para os candongarem) ou as suas vaidades lutassem pelos preços dos bilhetes e condições dos adeptos?
É melhor voltar a dormir…
PS: A vida tem me dado a felicidade de conhecer pessoas boas um pouco por toda a europa no decurso destas viagens e a benção de ter um núcleo de bons amigos que por vezes me acompanham. Sem tudo isso isto seria apenas um exercício de aritmética ou de coleccionismo que a mim nada me dizem. Quem me acompanhou e as novas pessoas que conhemos acrescentaram uma enorme mais valia e significado a tudo isto. Sem vocês seria possível...mas não seria inesquecível. Obrigado !!! Danke !!! Thanks !!!
No decorrer da passada semana visualizava com interesse um programa na BenficaTV que falava acerca do DVD de “carreira” do Ryan Giggs em que a dado momento o entrevistador lhe pergunta que tipo de relação tem o Giggs com o novo treinador do Manchester United Van Gaal. Entre outras coisas o Giggs diz o seguinte “dou-lhe alguns conselhos com a experiência que tenho desta Liga, por exemplo há jogadores que marcam sempre contra determinadas equipas”. Não sei se o texto é exactamente este mas o teor é. E com isso lembrei-me automaticamente do Lima na noite de ontem. O Lima marca ao Porto. Foi assim pelo Braga e tem sido assim pelo Benfica.
Na passada semana fiquei entusiasmado com a possibilidade do Lima estar no “banco” no Dragão. Iria jogar o Jonas. Estava a fazer melhor época, estava motivado e o Lima falhava golos atrás de golos. Com o Belenenses teve daqueles lances que até eu marcava. Ontem sai o 11 e foi a minha principal surpresa. Minha e de todos. Menos de quem sabe. Quem treina o Benfica diariamente. Por isso o Jesus está no Banco do Benfica e eu estou aqui a escrever estas coisas. É a grande diferença. Uns sabem, outro opinam. A vida resumida.
Ontem no Dragão o Benfica teve a sorte do jogo. Fez os 2 golos em alturas cruciais, viu bolas a bater nos ferros, teve um lateral amarelado aos 5 minutos, teve um Samaris a fazer um jogão, Talisca e Gaitan sublimes e um Júlio César a mostrar porque foi um dos grandes guarda-redes do futebol europeu nos últimos anos.
Correu tudo bem. As forças inverteram o jogo tacticamente perfeito que caiu ao minuto 92 com a “chouriçada” de um tal de Kelvin.
Mais uma vez o Benfica volta a triunfar no estádio do FC Porto por 2-0 com um jogador a bisar. Uma das vezes deu título, a outra não. Esperemos que seja a primeira opção. 6 Pontos de vantagem são bons mas não suficientes para o que ai vem. Acreditar até ao fim e gerir jogo a jogo. A falta de pressão europeia pode ajudar.
O que faltou? Apenas ter marcado presença física no Estádio, mas quando nos sentamos à mesma mesa com a quase totalidade dos melhores amigos destas andanças de bola e se festeja com abraços como no estádio não se pode pedir tudo.
Um dia feliz.
Quando foi o sorteio da Liga dos Campeões afirmei ao meu circulo mais próximo de admiráveis pessoas que o Benfica estava no grupo mais perigoso da Champions. Que tanto podia ficar em primeiro como em último. Não havia nenhum “tubarão” (em teoria seria o próprio Benfica…) nem qualquer outsider de um nível de um Bate Borisov ou um Maribor (desculpem mas é um facto). Neste momento nem sequer “existia” Talisca, talvez a ténue esperança de resolução de jogos com presença na área num período pós Cardozo e com um Lima ausente. O retardatário Jonas nem conta para isto…
O jogo de ontem constatou esse facto. O Benfica sai da Liga dos Campeões pela porta pequena e com poucos motivos de orgulho. Teve porventura os seus melhores momentos de futebol em ambos os jogos com o Zenit e em ambos perdeu. A derrota em casa na primeira jornada marcou toda esta campanha e ontem quando o Luisão falhou um golo com a baliza à mercê (ele que nos marca sempre golos decisivos) percebeu-se que o triste fado da Liga dos Campeões iria continuar a tocar para as bandas da Luz. A boa campanha da era Koeman é cada vez mais uma miragem e a impreparação da equipa de Jorge Jesus para a alta roda do futebol europeu (Champions League) é porventura o seu calcanhar de Aquiles. Mais que qualquer aposta em Roberto ou Emerson. Ou Jardel.
Depois da derrota em São Petersburgo (não merecida… mas isto no futebol já se sabe como é) o Mónaco apenas confirmou o desastre desta temporada europeia depois do brilho das duas anteriores na 2ª divisão.
Não gosto de alinhar em turbas de “archote e forquilha” a caminho do Estádio da Luz nem acredito em naufrágios e políticas de terra queimada. Considero que o Jesus é o melhor treinador que já vi ao leme do Benfica e vou levar essa convicção até que apareça um melhor do que ele (de facto e não de “boca”), mas estas fracas campanhas europeias na alta roda têm (e acredito que isso aconteça) de fazer pensar os responsáveis do Benfica. Não somos um clube rico, não temos os recursos das outras equipas do nosso grupo (2 delas em Ligas inferiores à nossa) mas não me serve de grande consolação quando consigo perceber desde o primeiro minuto que há qualquer coisa que não está a funcionar bem no nosso plantel e que vamos ter de ser bafejados pela sorte para conseguir vencer as 3 competições internas. E como diz o outro “a sorte dá muito trabalho”.
O caminho esta temporada será o de apontar aos objectivos internos e não menosprezar qualquer das competições. Temos um Dezembro com dois jogos importantíssimos pela frente (Braga para a Taça e Porto para a Liga) que podem definir a nossa temporada e um ajustar de expectativas. Duas vitórias em ambos os jogos seriam fantásticas. Uma vitória e um empate um mal menor. Duas derrotas um pesadelo difícil de digerir a meio de uma temporada subsequente a uma das mais brilhantes do Sport Lisboa e Benfica.
Em Coimbra é para vencer. Sem desculpas.
Ver um jogo enquanto se janta com os amigos tem dois efeitos, o primeiro é que a nossa atenção é repartida entre o televisor e quem nos rodeia o que nos pode por momentos alhear do que se passa no ecrã, o segundo é que esse alhear até pode ser bom… Foi o que aconteceu ontem em Leverkusen.
Numa localidade em que o Benfica fez um dos jogos mais memoráveis da sua recente história europeia, num estádio onde há 2 anos vi a bola com flocos de neve na cabeça e onde o Tacuara nos deu mais uma brilhante vitória o Benfica deixou uma triste imagem. Não só de si mesmo (gravíssimo) como do panorama actual do futebol português (menos grave). E o futuro não se augura brilhante….
Mas como com o mal dos outros (equipas portuguesas na Europa) posso eu bem, olhando para o jogo do Benfica em Leverkusen é fácil perceber o que aconteceu. E isto são factos que por muito que custe a admitir ficaram a nu em ambos os jogos europeus do Benfica esta temporada:
- o plantel é curto em opções de qualidade. Falta-nos um central de categoria (não conheço o Lisandro), um guarda redes como o Oblak e um ponta de lança matador. Ainda dou o beneficio da dúvida relativamente ao “trinco”, mas estas 3 posições estão por preencher. Não sei se o Jonas consegue resolver a última.
- o Benfica há vários anos para cá tem vivido das boas prestações europeias na Liga Europa. Na Liga dos Campeões a música é outra e se a memória não me falha a última brilhante prestação nesta competição deve ter sido com o Koeman…
Tudo o resto à volta disto é folclore, sejam eles penalty’s que ficam por marcar, expulsões idiotas, frangos dos guarda redes ou má rotação do plantel por parte do Jesus. Até pode ser tudo verdade, mas não justifica que uma equipa que dizem de Pote 1 da Liga dos Campeões chegue a Leverkusen e nos primeiros vinte minutos passe o tempo no seu meio campo a levar “bolada”… O Pote 1 é a nossa falácia. É a nossa soberba que não nos permite a humildade de reconhecer (a nós e ao Fóculporto) que o nível de Portugal é Pote 2 para baixo.
Qual é a solução agora?
Passa por ganhar no Mónaco, ganhar na Luz ao Mónaco e ao Leverkusen o que pode permitir uma nova escorregadela em São Petersburgo.
Simples.
.... aposta-se no Casino
A distância de Setúbal ao Estádio da Luz não é muito grande mas esta Terça Feira europeia provou que jogar na nossa Liga e na Liga dos Campeões é cada vez mais uma realidade paralela que raramente se cruza. Porventura nos confrontos com o FC Porto e pouco mais… A nossa Liga está cada vez mais fraca e a Liga dos Campeões cada vez mais forte. Se provas faltassem (e não faltam, já que claramente os clubes portugueses não têm “andamento” para mais que os oitavos de final da Champions – salvo imponderáveis) ontem o Benfica (e muitos dos seus adeptos) receberam um “banho de humildade” na sua própria casa.
É certo que o Zenit teve a sorte do jogo (a mesma que tivemos em Setúbal) e que porventura nos possamos queixar aqui e ali de uma decisão de arbitragem ou de algum “azar”. Talvez merecêssemos um golo. Aqueles que ficaram até ao apito final e não abandonaram a equipa para correr para algum estacionamento ou para o Metro mereceram. A equipa que lutou com 10 elementos quase 2 terços do jogo também merecia. Lutaram, correram, esforçaram-se e fizeram por merecer a sua sorte. Não a tiveram. Os outros foram melhores. E passados 2 anos (2 anos !!!) o Benfica voltou a perder na Luz. Todo este trajecto da equipa merece o nosso aplauso e ovação. Como muito bem a Luz entendeu. Finalmente.
Saí do Estádio com uma estranha sensação de alivio. Por um lado agrada-me perceber que a maioria presente na Luz entendeu o jogo, entendeu a equipa, entendeu o futebol. Agrada-me também que a “euforia” relativamente aos 5-0 de Setúbal abrande e finalmente agrada-me também que o Zenit seja a equipa mais “complicada” do grupo. Dá-nos boas perspectivas de apuramento (a jogar com a vontade e garra de ontem) para um possível apuramento para os oitavos…
Em Leverkusen logo veremos…
Assistir tranquilamente a um jogo de futebol apenas pela paixão do jogo em si é um prazer raro que gosto de explorar quando me encontro fora do país. Em Portugal encontro-me sempre a torcer pelo Benfica (ou pelo Farense) ou contra qualquer um que jogue contra a FPF (estou a brincar…). Quando estou fora deste “complexo” o objectivo é simplesmente recuperar o prazer simples de ver uma bola a rolar e 2 equipas tentarem marcar golos.
Em Inglaterra com uma Premier League já tão comercial, cara e sobretudo com pouco por conhecer (já que quem gosta de futebol inglês quase
que é obrigado a conhecer todos os planteis e craques) o prazer obtém-se nas ligas secundárias onde ainda é possível ver equipas com uma quase totalidade de jogadores britânicos ou irlandeses e 90 minutos de correria, passe, remate e golos. Sem os “truques” dos modelos defensivos e do rebolar no chão. Por momentos temi que até isto fosse ameaçado já que mesmo o Championship inglês é para além de um campeonato extremamente competitivo (com equipas que já venceram competições europeias… ) também uma vítima de uma “invasão” de jogadores estrangeiros de segunda linha. Felizmente enganei-me… Mas já lá vamos…
A primeira boa surpresa aconteceu ao saber que a permanência no sul do país me iria proporcionar o “Devon Derby” entre o Plymouth Argyle e o Exeter City… A má surpresa foi o preço… 23£ para um jogo do 4º Escalão Inglês. Mesmo para o nível de vida inglês é caro. Quanto mais para o nosso. Mas fazendo valer a máxima do “é uma vez na vida” lá me dirigi ao velhinho (mas renovado e bem melhor que alguns nossos estádios de primeira divisão) Home Park para ver um jogo de futebol com praticamente apenas um sentido… o da equipa da casa. Aos 14 minutos já venciam num excelente golo de livre. Antes do intervalo fizeram o 2-0 e quando o Exeter parecia próximo de um golo que lhe desse oportunidade de “relançar” o jogo chega o 3-0 já depois dos 80 minutos. Bancadas ao rubro. Mais de 11.000 pessoas (num estádio que deve levar cerca de 15.000) com cerca de 1.500 adeptos forasteiros. Números impensáveis para outros clubes que não os chamados grandes portugueses salvo raríssimas excepções.
Relembro… 4º Escalão Inglês e com a Premier League a começar nesse fim de semana. De assinalar uma forte presença policial (mesmo dentro do estádio… algo que não vi em Londres) especialmente na recepção aos adeptos do Exeter que viajaram organizados seja de comboio ou de autocarro.
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Em Londres o leque de opções não era grande. Apenas me encontrei na cidade em dia de semana mas em boa hora me “calhou” o Charlton Athletic vs Derby County. Um Estádio londrino que não conhecia (The Valley), um preço simpático (15£) e um excelente jogo de bola com duas equipas a lutar para vencer, uma com a estrelinha da sorte (Charlton), um enorme frango (do guarda-redes do Charlton) e emoção até ao final… Mas sobretudo o que mais ficou foi a lição de história que recebi relativamente ao Charlton.
Comecemos pelo inicio… Fundado em 1905 foram rapidamente considerados o maior clube em fan base na zona de Londres que ocupavam… Tão grande que provocou que outro clube da zona tivesse de mudar em 1913 para North London para evitar fechar portas… um tal de Arsenal FC fundado por operários do Arsenal Militar em Woolwich, bem perto da Thames Barrier onde foi fundado o Charlton.
Tendo o seu período dourado nas décadas de 20 e 30 os Addicks obtiam facilmente fasquias de 40.000 espectadores nessa altura, mas começou pouco depois a ser relegado para segundo plano em relação aos “gigantes” Arsenal, Tottenham , Chelsea e West Ham.
No entanto houve um período em que o Charlton esteve para desaparecer. E foi esse que me apaixonou. Em meados da década de 80, e após um delicado período financeiro, o Estádio onde (salvo uma época nos anos 20) o Charlton sempre jogou (The Valley) foi decretado inseguro. O clube não tinha dinheiro para obras e a degradação do recinto foi tomando conta até um limite insustentável. O clube foi obrigado a jogar em Upton Park (West Ham) ou Selhurst Park (Crystal Palace) e não havia solução à vista para voltar ao velhinho The Valley. Até que um grupo de adeptos se organizou, traçaram um plano financeiro, apostaram nas camadas jovens, apostaram no apoio da comunidade local e em Dezembro de 92 acontece o “milagre”: estádio remodelado e o regresso a casa. Tudo feito com o esforço dos adeptos locais e sem recorrer aos “tubarões” exóticos que agora são moda. Moda essa que também chegou ao…Charlton. Hoje é propriedade de um magnata Belga que além dos Addicks ainda possui o Standard de Liège, o FC Carl Zeiss Jena (!!!) e o espanhol Alcorcon. Claro que isto se reflete no clube… vários jogadores vieram da liga Belga e o treinador é o também belga Bob Peeters… um ex-avançado matacão que os mais “doentes” se recordarão de ter jogado contra o Benfica pelo Lierse…
Alguns números: assistência superior a 15.000 pessoas e cerca de 2.000 adeptos do Derby para um jogo a uma terça feira à noite e com uma distância superior a 200 kms entre ambas as cidades… Sintomático…
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Analisando foi óptimo regressar aos estádios ingleses das divisões secundárias. Sentir aquela paixão pelo jogo que pelo que já vi já é mais raro encontrar na Premier League. Jogos mais populares, sem hordas de turistas, sem todo aquele glamour mediático e ver jogar nomes que provavelmente nunca irei ver nas overdoses de tv…
PS: Não há nada tão britânico como a hora do intervalo em que entre as cervejas, o chá e as pies do bar se acompanham todos os resultados do futebol Inglês e Escocês nos ecrãns de tv espalhados pelos corredores... Vi isso desde a Conference até à Premier League... É transversal e fantástico...
Só para nos situarmos, não que gostemos de nos lembrar, foi no Benfica - Sporting de 2005. O da semana que não aconteceu. Do Luisão e do Ricardo, esse. Estamos situados, adiante.
Combinei com um amigo, o João, ir ver o jogo ao Alvalaxia e assim foi. No meio de muita gente à espera de boas noticias que nunca chegaram, procurámos um lugar sentados. Vagou mais um lugar e sentou-se um senhor ao meu lado. Assim estivemos a ver a primeira parte.
Não sei precisar o momento, talvez tenha sido no intervalo, altura em que ainda deu para conversar um pouco. O meu vizinho do lado começou a falar connosco. Se eramos sócios, se tinhamos lugar e onde. Disse-lhe que sim e na sul. Respondeu-me que pagava três lugares, o dele e os dos dois filhos. Que tinha continuado a pagar o do mais velho apesar de tudo. Não olhava para nós enquanto falava pausadamente, frase a frase, como se se voltasse a convencer, a reconstituir tudo. O filho tinha morrido num desastre não há muito tempo. Continuou a pagar o lugar, "o Sporting era tudo para ele". Não me lembro de mais detalhes do que me disse. Ainda falou do filho um bocado, mas eu sentia-me minúscula perante este horror, ouvi-o e talvez tenha balbuciado uma ou outra palavra de conforto mas apagou-se-me quase tudo da memória. Ficou-me que continuava a pagar o lugar. Como se deixar de o fazer fosse o perder definitivamente a memória do filho, como se fosse a ultima coisa que como pai podia fazer.
Publicado também ali.
Nos dias após as derrotas do Benfica é me sempre mais fácil escrever acerca do tema. A inspiração parece que surge na desgraça e tal coisa é para mim um enorme motivo de vergonha. O cheiro a madeira e da tinta a arder, o barulho da derrocada, o som do metal a retorcer no acidente… são exercícios de puro masoquismo …a mim dá-me para escrever a outros para atirar a toalha ao chão...
A outros, os piores disto tudo, dá para festejar estas derrotas porque não gostam do treinador do presidente e acham que estas derrotas são enormes tónicos para os seus egos inchados pensarem que têm razão… Uma lástima de gente…Acabo sempre por recordar a expressão imortalizada pela voz grossa do Michael Cane no “Dark Knight” : “Some Men Just Want To Watch The World Burn”
Esse parece me ser um dos maiores problemas culturais neste Benfica…
Indo primeiro a Paris, confesso que vi o jogo a espaços (o que por si só é um sintoma da letargia que me atingiu …afinal não é só a equipa) mas colocando os pés bem assentes na terra e no dia posterior à derrota é por demais evidente que o Paris SG é uma equipa muito superior ao Benfica (só não é para aqueles saudosistas / loucos que acham que o Benfica ainda joga com aquele onze que a passa na Benfica TV a promover o Museu) e que sofrer um golo aos 5 minutos “rebenta” com qualquer preparação táctica para qual partida de futebol. Isso para mim são duas verdades absolutas e em relação ao apuramento sempre achei que se iria discutir com os gregos do Olympiakos (que foram “sovados” em casa por 4-1 por este mesmo PSG na primeira jornada).
Falando de Champions (factualmente) o nosso futuro depende dos dois confrontos com os Gregos. Empatar em Atenas e vencer na Luz é importante e deve por si só garantir a passagem aos 8ºs de Final (onde iremos para casa) já que não creio que o Anderlecht tenha alguma palavra a dizer neste apuramento. Depois é não “borrar” a pintura em Bruxelas, já que depois do festival de ontem duvido sequer que o Benfica consiga vencer o PSG em casa… A não ser que o apuramento esteja já decidido para os franceses e estes venham a Lisboa jogar com as reservas…
O que já me custa a “engolir” no dia de ontem e na semana anterior é por um lado a falta de atitude gritante de uma equipa recheada de bons valores e a péssima gestão de espectativas relativamente ao embate de ontem (e à nossa ambição na Champions League) depois de um fim de semana em que mais uma vez o nosso fado não permite sequer ganhar a um Belenenses no Estádio da Luz. “Ah e tal são competições diferentes”… Sim pois são… mas até no Football Manager quando sou questionado para a ambição da equipa nos confrontos com os teoricamente mais fracos tenho a habilidade de transmitir que a equipa está sempre motivada. E deveria estar… mas também devem ter a sagacidade e a inteligência suficiente para perceber as limitações que têm e perceber que a gestão de expectativas é muito importante quando se gere um grupo de pessoas…seja ele um plantel…seja ele 6 milhões de adeptos.
Portanto, o que nós pretendíamos era que uma equipa que nem sequer tem arte, engenho e atitude competitiva para vencer o Belenenses no Estádio da Luz, fosse ao Parque dos Príncipes vencer o Paris SG… e qual era a nossa arma secreta? O apoio dos emigrantes…
Certo…
Considero que faz falta um “abanão” no Benfica. O problema é saber onde começar…
Será no treinador? É o Marco Silva uma melhor alternativa? (o exemplo do fraco desempenho do Paulo Fonseca nos rivais dá que pensar…)
Será na Direcção? Oiço essa conversa desde os tempos do João Santos. Depois tivemos o Jorge de Brito que era velho demais para aquilo e andava mal acompanhado. Veio o Damásio e tivemos das piores equipas de futebol, andava de braço dado com o Pinto da Costa, etc. Veio o Vale e Azevedo que era o salvador da Pátria Encarnada e agora está na Carregueira a fazer de Sacristão. Chegou o novo salvador, o Vilarinho que prometeu Jardel (não era o George ???) e era bom mas depois já era bêbado. Veio Luis Filipe Vieira, um “sabichão” dos meandros do futebol e que trouxe o Simão para o Benfica. Novo Estádio, novo centro de Estágio, novo Museu e novos ciclos ano após ano… Pelos vistos também não serve…
Não sei onde vamos parar…Talvez a um qualquer Oligarca Russo ou um Árabe cheio de Petrodólares? É esse o caminho?
Um pouco por toda a Europa vemos exemplos de como o futebol se transformou. Como os ídolos do Bayern de Munique são um Francês e um Holandês. Como no Manchester United se destruiu um legado em meses, como no Manchester City se investem milhões e milhões ano após ano para nada, como no Real Madrid se faz o mesmo ou pior, como o Chelsea se transformou num Belenenses para um candidato ao título com uma varinha mágica vinda do frio… e nós? Continuamos agarrados aos valores do passado que achamos que vão voltar numa manhã de nevoeiro acompanhadas por bandeiras de Cosme Damião(essa moda que veio para ficar até aparecer a próxima) para salvar o Benfica e manter o seu estatuto de Grande, esquecendo que o Estádio da Luz está cada vez mais vazio, a militância benfiquista é cada vez menor e não ultrapassando o rotulo de perdedor em que épocas de Sonho se transformam em pesadelo em minutos de desconto…
A minha cabeça ainda está no jogo com o Estoril do campeonato passado, está no Jamor com o Guimarães e na falta de atitude no campo e no final do jogo, está no milagre que foi ganhar ao poderoso Gil Vicente em casa nos descontos, nos insultos do Capitão do Benfica aos sócios, no empate com o Belenenses e na mão de Gaitan levantada ontem a pedir fora de jogo passivamente…
O plantel quer “despedir” o treinador? O plantel não quer o Cardozo? O Lima anda descontente? Os sérvios andam a minar isto porque não jogam? É Jesus o responsável por isto? É Vieira? É Carraça? Somos nós?
Acordem e mudem de figura… Já no Domingo…
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