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Quatro-Quatro-Dois



Quarta-feira, 20.05.15

Ponto de viragem?

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O Benfica festejou no passado domingo o 34º titulo da sua história. Eu festejei o meu 6º como adepto de estádio. Em 90/91 estive em alguns jogos na Luz. Na velhinha Luz dos 120 mil não foi sequer difícil encontrar um bilhete para o jogo da “festa” com o Beira Mar. Tinha 13 anos e o meu pai fez-me o favor de me “criar” o bichinho do Estádio da Luz. Lembro-me bem da luta do Rui Águas com o Domingos para ser o melhor marcador do Campeonato (e foi…nesse jogo) e das bandeiras e cor que no anel inferior do lado oposto ao onde me encontrava (estava no 3º anel) brilhavam naquela tarde de sol. Era o antigo sector dos Diabos na Luz. Seguiu-se o titulo de 93/94. O do mítico 3-6 de Alvalade (o meu primeiro derby fora de casa) e da equipa “esfrangalhada” pelo verão quente que levou o Paulo Sousa e o Pacheco (e quase o JVP) para Alvalade. Foi um campeonato mítico, de raça e querer… Devo ter visto quase todos os jogos na Luz (no terceiro anel, no antigo sector da Raça Benfiquista)  e fora na zona de Lisboa só falhei Setúbal (na tarde mágica do Yekini). A “febre de Estádio” já estava a correr nas veias. A partir de 94 comecei a seguir o Benfica com frequência fora de portas. E tivemos de esperar mais de 10 anos até ver um novo título: 2004/2005. O de Trapattoni (já com Luís Filipe Vieira ao leme). O título mais estranho da minha vida. A equipa não jogava particularmente bem, não tinha grandes jogadores (tirando o Simão, Luisão e pouco mais) e foram diversos os jogos com o credo na boca…    O jogo com o Sporting na Luz foi dos mais míticos da minha vida no nosso estádio e foi o nosso momento “Kelvin” antes dos outros…


Mas o que mais me faz pensar no hiato desses dois títulos (93/94 & 2004/2005) foi a forma como o futebol, a Luz e o apoio mudou. Os Estádios do Euro2004 mudaram a forma como íamos à bola. Mudaram a paisagem, a frequência, o conforto e sobretudo o apoio das bancadas. Todos nos “aburguesamos” e cada vez menos pessoas viam o futebol de pé e a cantar. Deixou-se de praticamente ver bandeiras (sem ser as das claques… e mesmo essas são cada vez menos) e passou-se a ver muito mais gente a usar as camisolas dos clubes (que devem custar em média uns 75€). A maneira de ir à bola mudou e todos mudámos com ela.  Venderam-nos a ilusão de estádios com mais conforto e funcionais como algo que iria melhorar a assistência das pessoas e a presença das famílias. A verdade é que as assistências nos novos estádios (e a própria capacidade dos mesmos) dos “grandes” tem vindo a diminuir (mesmo com todas as borlas possíveis e imaginárias) e chegou-se ao cúmulo de assistir a duas meias finais europeias numa Luz que não estava cheia. Inclusive o Benfica devolveu à UEFA bilhetes que não conseguiu vender para duas finais europeias. Amesterdão e Turim. E o argumento das famílias irem ao futebol esbarra logo nos preços dos jogos… Pelo menos para uma família mais “popular”…

 

Voltemos à marcha dos títulos que me estou já a dispersar.

 

Entra Jorge Jesus no Benfica e a marcha dos troféus dispara. Foram (em 6 anos) três títulos de campeão e 9 troféus no total (que podem ser 10 em caso de conquista da Taça da Liga na próxima semana). Deveriam ter sido 4 e podíamos estar a festejar o almejado tri-campeonato neste momento não fosse aquele maldito minuto 92 no Dragão, mas estes últimos anos de Benfica têm sido mais positivos que negativos. Agora o “natural” é ganhar e o “antinatura” é perder. Algo que mudou desde que Jesus chegou à Luz e que acredito que coincida com um maior profissionalismo da estrutura do Benfica (algo que se sente também nas modalidades de pavilhão) do que mérito exclusivo do treinador (o qual admiro e espero que renove contracto).

 

Mas o que mais me perturba pessoalmente é o facto de que os meus festejos de 2009/10, 2013/14 & 2014/15 não conseguiram arrancar da minha pessoa aquela emoção que senti em épocas anteriores (lembro-me de chorar agarrado a um megafone no Bessa no jogo do titulo de 2005). O primeiro de Jesus foi apenas conquistado na última jornada frente ao Rio Ave. O que me recordo desse jogo não foram os marcadores dos golos ou qualquer cena espectacular nas bancadas. Lembro-me de um frango do Quim e de pessoas terem de abandonar a bancada onde eu estava por estarem a levar com tochas e petardos em cima… Adeptos do Benfica.  Acabei o jogo a festejar com os amigos habituais mas essa imagem não consigo apagar. Foi também o inicio do “Marquês” como mega-show organizado. Chega-se a 2013/14 e foi um ano sofrido. As feridas de tudo perdermos no ano anterior ainda demoraram a sarar e talvez o jogo mais espectacular dessa temporada tenha sido a 2ª mão da Taça com o Porto na Luz. Que jogo. Que Benfica. A conquista da Liga chegou naturalmente a algumas jornadas do fim. Acabei a noite tranquilamente com alguns amigos fora da euforia do Marquês. Fomos já campeões ao Dragão. Não fui a esse jogo. Algo começava a mexer com o meu subconsciente que me incomodava. A ideia de passar um domingo à noite (véspera de trabalho) num comboio a caminho de Lisboa deixou de me parecer atractiva. Para mim a minha época tinha ficado fechada em Turim na meia final contra a Juventus. Foi das páginas mais emocionais e brilhantes da minha história como adepto de Estádio do Benfica. Senti que a partir desse momento nada mais chegaria a esse nível. Ainda o sinto.

 

Chegámos a 2014/2015. Não segui tanto o Benfica como em anos anteriores. Não senti aquele chamamento que costumava sentir nos inícios de épocas. Não sei se for por ir de férias e perder o inicio da época, se por motivos pessoais ou mesmo por me sentir desiludido com uma situação mais especifica. O Benfica tinha conquistado tudo (menos Liga Europa) e supostamente deveria sentir uma motivação especial. O Desafio seria o Bi-campeonato e uma melhor carreira europeia. Se o primeiro foi atingido (com justiça mas sem aquele brilhantismo do ano anterior) o segundo ficou muito aquém das expectativas. Ao menos serviu-me para poupar algum dinheiro com a ausência de viagens europeias. Irão certamente dar jeito para as férias que bem merecemos.

 

Fui a poucos jogos fora de Lisboa (Coimbra, Barcelos e Guimarães) mas em casa apenas falhei 2. Procurei em toda a época aquela “faísca” que despertava o seguir do Benfica. Não a encontrei. Acho que ainda está algures perdida em Turim.

 

Pelo meio da época fiz duas jornadas europeias. Uma “tour” na Alemanha com alguns amigos mais próximos e ao Dragão para estar com amigos do FC Bayern numa jornada “negra” para eles em termos desportivos mas que em muito me enriqueceu em termos de adeptos de Estádio. O “frio” povo alemão dá-nos lições de apoio fervoroso. E se ver in loco o apoio total dos adeptos do Bayern no Dragão a perder 3-1 (e quando digo total é total…não apenas os “ultras”) a experiencia que assistimos em Dortmund e Hamburgo alterou para todo o sempre a forma como quero ver futebol. Tudo que seja menos que isso é pouco. Os “sabichões” dos clubes e da Liga Portuguesa (e alguma imprensa) que tanto gostam de apregoar o modelo Inglês deveriam fazer uma pequena viagem de 2 semanas a Inglaterra e depois à Alemanha. Sintam o ambiente de Estádio com  gente sentada em cadeiras de plástico a pagar preços caríssimos por oposição a bancadas com milhares de pessoas de pé. Sem cadeiras, sem vergonha de usar bandeiras ou cantar e a pagar preços que me envergonham como português e adepto de bola. Façam isso e avaliem que tipo de ambiente preferem.

 

Volto a Portugal.

 

Depois de Barcelos e do jogo (fraquinho) frente ao Porto seguiu-se o grande desafio do final da época: Guimarães. Era a derradeira possibilidade (dentro do mundo das possibilidades num desporto como o futebol) de o Benfica perder esta Liga. Frustrou-me não ter sequer celebrado um golo do Benfica em Guimarães. Tive de festejar um do Belenenses e celebrar o meu 6º campeonato na vida de adepto de Estádio na companhia dos meus amigos da bola. Poucos lá faltavam. Euforia comedida e a mesma sensação de perca da tal “faísca”. Sim é óptimo vencer. É bom festejar. É um momento único o fazer em Guimarães (melhor só em Alvalade ou Dragão) mas o tal “click” não acontece. Interrogo-me porquê e acho que encontro parte da resposta ao almoço com um amigo meu (que foi comigo a Guimarães) na terça-feira seguinte. Talvez estejas a ficar velho. Talvez não te tenhas adaptado ao fenómeno em que de anos em que discutias estandartes, bandeiras, coreografias em fotos com os amigos passaste a fazê-lo cada vez menos. Porque tens menos amigos interessados nisso e mais em marcas de roupa ou em vídeos de violência gratuita e idiota. Percebes que ires ao futebol com os teus filhos e veres imagens de um pai a ser agredido selvaticamente por um oficial da policia sem qualquer motivo que o justifique é errado. Que pessoas a roubar um armazém de equipamentos de desporto como se tivessem nos saldos da Zara com a maior calma e falta de vergonha possível não é algo com piada. Felizmente não eram de nenhuma claque para pena de muita opinião pública ou da comunicação social. Percebes que algo está errado quando as imagens dos festejos são ofuscadas por gente a fazer merda. Fardados ou à civil. Percebes que tens o teu mundo ao contrário quando já te custa separar os bons dos maus.

 

Percebes que ou isto dá uma grande volta ou não há volta a dar…

 

Desconheço o que a nova época irá trazer para o Benfica. A continuação do treinador é uma incógnita. De alguns jogadores também. Há um novo patrocinador nas camisolas e até estas parecem fugir à habitual polémica das cores ou do design. Almeja-se um Tri-campeonato. Eu apenas almejo voltar a Turim.

 

Carrega Benfica !!!

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rematado por Ricardo às 16:28



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