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"Players lose you games, not tactics. There's so much crap talked about tactics by people who barely know how to win at dominoes." - Brian Clough
Passaram dois dias da última desilusão desta época desportiva do Benfica (futebolisticamente falando…) e neste momento o nosso Clube está nos a oferecer o seu pior. Aliás, começou logo após o apito final no Jamor, na demonstração de falta de Fair Play, na “zanga” entre o Cardozo e o Jesus, nos socos e pontapés nas bancadas entre benfiquistas… Tudo um mundo de trevas às quais nunca me irei habituar…
Ainda no Jamor oiço palavras de ordem contra o treinador e o presidente do Benfica, como se a nossa “noite das facas longas” começasse logo ali… naquela tarde de sol e que se pretendia de festa e de consolação para a nossa montanha russa de 2012/2013.
Não consigo reagir dessa forma… A quente chamei todos os nomes ao Artur. Foi a “robertada” dele que nos posicionou para este desfecho naquela tarde. Mas mais tarde já me lembrei daquela defesa impossível em Amsterdam e tudo passou. Desculpa Artur.
O Benfica que caiu no Jamor, no seu último sprint, é uma vítima de si próprio. É um Benfica vítima da fanfarronice, da festa antecipada, do desleixo e da descontracção. É um Benfica vítima do seu umbigo.
“Ah, estás a falar do Jorge Jesus”… Não de todo. Estou a falar de nós todos. Desde o Presidente ao adepto mais comum que mesmo sem bilhete foi ao Jamor comer umas bifanas com os amigos e beber umas cervejas. Estou a falar daquele adepto que basta um jogador vir de um qualquer lugar exótico para ser endeusado com cânticos e estandartes. Aquele adepto que “bastou” o Jesus ganhar um Campeonato para o endeusar também. Nunca me vou esquecer das tarjas que no “Barbas” adornavam o exterior dos restaurantes no verão após a conquista do Título pelo Benfica do primeiro ano do Jorge Jesus.
Se calhar a análise a este Benfica (que começou após o Fernando Martins…ou com ele e o seu braço dado aos lá de cima…) deveria passar por todos nós… Deveríamos ter capacidade de olhar para o nosso espelho e tentar perceber em que erramos, em que ponto tomámos a estrada errada e porque estamos aqui…
Deveríamos também perceber em que momento a nossa metamorfose de Adepto (aquele que apoia incondicionalmente as suas cores sem perder o sentido crítico) nos transformou em meros clientes de um Clube que hoje em dia é um Grupo Empresarial (de sucesso pelos vistos). Em que momento vendemos a nossa alma ao diabo para poder vencer a qualquer custo. Apostámos no vermelho (claro) mas saiu preto…
Devíamos entender quando nos transformámos num clube de plástico em que as “coreografias” nas bancadas são pagas a uma empresa que copia os adeptos do Fóculporto…
Estamos melhor? Sim estamos. Se calhar ao contrário da maioria neste momento de amargura e tristeza consigo entender que nem tudo está a ser mal feito. O Benfica está melhor hoje do que na época em que comecei a ir à Luz (90/91). Conseguimos ir longe na Europa (mesmo que seja a segunda divisão…mas bolas…é para isso que o futebol português está fadado), já estamos a conseguir não ficar a 15 ou mais pontos dos Andrades (sim…já vivemos isso…) e temos comprado e exportado jogadores com qualidade (e lançado jovens promessas aos melhores clubes europeus).
Temos ganho “coisas”? Não. Temos sido incapazes no momento da verdade. Onde os “Outros” têm mostrado capacidade de vencer nós temos sido os “losers” desta história. Em poucos momentos aconteceu o contrário, mas lembro-vos também que para cada golo no último minuto de um Kelvin que devia ter levado uma pantufada do Roderick há aquela final da Taça da Liga onde após Marselha e com as “reservas” vencemos o arqui-rival. Foi na Taça da Liga? Nem que fosse ao berlinde… e aí sim…”Limpinho Limpinho Limpinho…”
Onde pára esse Benfica do primeiro ano do Jorge Jesus que nos fazia sonhar?
Numa análise “fria” ao plantel deste Benfica vejo que temos um Guarde Redes de qualidade, dois centrais de qualidade, um defesa direito que já teve melhores dias (mas que dá sempre tudo em campo), um defesa esquerdo adaptado, um miúdo que vai fazendo os dois lugares das laterais adaptado (e esforçado). No meio apenas um trinco (que mesmo assim surpreendeu meio mundo…pois eu não me esqueço do que todos dizíamos do Matic o ano passado…), apenas um box-to-box de qualidade (Enzo), 3 miudos com algum talento mas sem qualidade para o 11 do Benfica (Ola John, Urreta e André Gomes), 2 jogadores acabados (Martins e Aimar), um Gaitan que tem um talento imenso mas que já devia ter sido vendido e um Salvio que é o único indiscutível nas alas. No ataque temos o Lima (ao qual muitos preferiam o Nélson Oliveira) e o Cardozo. O Rodrigo acabou em São Petersburgo e o Kardec é um erro…
Olhando para a nossa equipa B, bem…tirando o Cancelo ou muito me engano ou não vamos ter ali muito filão a explorar…
Ou seja, basicamente, e se no inicio da época vos apresentassem este cenário, quantos de vocês iriam dizer “Epah, com este plantel vamos lutar pelo título até enterrar tudo com falta de atitude com o Estoril a 3 jornadas do fim, vamos à final da Liga Europa perder nos descontos e vamos perder a Taça no Jamor com o Guimarães porque o Artur vai dar uma de Roberto e enterrar aquilo tudo”…
Duvido que alguém… (tirando os loucos)…
Agora Jorge Jesus…
Sou admirador do Jesus. Tive uma cena engraçada com ele ainda na 2ª Era Camacho quando o apanhei na Luz com o Raul José uns minutos antes do Getafe – Benfica e lhe disse pessoalmente que ele é que devia treinar o Benfica… Pouco tempo depois lá estava ele na Luz que acredito que seja a sua “cadeira de sonho”.
O que o Jesus nos dá de sonhar em futebol jogado (e reafirmo mais uma vez que é o melhor treinador que alguma vez vi no Benfica) dá-nos em pesadelo com a sua gestão de expectativas e estratégia de comunicação. Há coisa de 20 anos acho que bastava a alguém ser “bom treinador” para se “safar” num clube como o Benfica, neste momento com a pressão diária dos Media inerente à função acho complicado. E nesse momento deveria entrar em campo a propalada estrutura no Benfica… Que pelos vistos não existe, ou apenas existe quando as coisas correm bem e depois fazem figuras tristes como a do João Gabriel nas suas conferências de imprensa de quem não ganhou nada mas se acha a última coca cola do deserto.
Esse erro não aprenderam…
Jesus deve continuar? Para mim sim. E nem é pelo “receio” que é ver Jorge Jesus nos Andrades a levantar a próxima Champions no Estádio da Luz é por achar (mesmo) que em Portugal duvido que haja melhor homem para o lugar. O problema é mesmo a falta de capacidade de uma estrutura do Benfica em lidar com uma personalidade como Jorge Jesus. E basta não recuar muito no tempo para ver como correu a vida a outros como Camacho, Santos, Quique Flores, Koemane e Trap.
Qual o papel do Presidente Vieira nisto tudo?
Nunca votei em Vieira, mas também não votei nos seus opositores. Não acreditei nos seus projectos nem me inspiraram confiança. E ainda hoje acho que o problema não está em Vieira per si mas sim em muita “gente” que meteu nos corredores da nossa Luz. Não duvido por um instante que Vieira queira vencer nem que seja porque sabe que isso o manterá no poder e claro…pela sua guerra de Egos com o seu antigo amigo lá de cima…
Numa última análise será ele a prestar contas...mas mais uma vez será o elo mais fraco a quebrar...e mais uma vez será a "fuga para a frente" a solução...
O que fazer?
Neste momento duvido que Jesus continue. Digo isso com plena consciência do que é o Benfica e a cultura desportiva do português que prefere o formato do “Dia Seguinte” ao do “Domingo Desportivo”. Seria necessária uma grande alteração na nossa realidade /mentalidade para aparecer o Presidente do Benfica a assegurar a manutenção do treinador. Não acredito. Acho que vamos ter saudades de ver Jorge Jesus no Benfica mas nada é eterno. Teremos de assumir a responsabilidade nesta “escolha” e saber viver com ela. Para o melhor e para o pior…
Vi por estes dias muitas comparações com o Bayern de Munique. Comparações no sentido da época desportiva passada do Bayern (na qual perdeu tudo no fim como o Benfica) e não a comparação que deveria ser feita… a da “Estrutura”. O presidente, os treinadores, os administradores, os dirigentes (ok…o Sammer era do Dortmund), são todas ex-figuras de proa do Clube. Estão identificados, têm o Bayern no seu ADN. Têm o ADN de vencedores. É isso que nos falta. Vencedores. Nem que isso nos obrigue a ir escavar às profundezas da nossa memória.
Tragam-me o Paneira para a equipa B e o Nuno Gomes para o Departamento de Futebol. Comecem por aí…
E façam o que fizerem devolvam-nos os Sonhos… Devolvam-nos a Alma. Lutem por nós e para nos fazerem felizes… É para isso que são pagos aí na Luz…
Viva o Benfica !!!!
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