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"Players lose you games, not tactics. There's so much crap talked about tactics by people who barely know how to win at dominoes." - Brian Clough
Assistir tranquilamente a um jogo de futebol apenas pela paixão do jogo em si é um prazer raro que gosto de explorar quando me encontro fora do país. Em Portugal encontro-me sempre a torcer pelo Benfica (ou pelo Farense) ou contra qualquer um que jogue contra a FPF (estou a brincar…). Quando estou fora deste “complexo” o objectivo é simplesmente recuperar o prazer simples de ver uma bola a rolar e 2 equipas tentarem marcar golos.
Em Inglaterra com uma Premier League já tão comercial, cara e sobretudo com pouco por conhecer (já que quem gosta de futebol inglês quase
que é obrigado a conhecer todos os planteis e craques) o prazer obtém-se nas ligas secundárias onde ainda é possível ver equipas com uma quase totalidade de jogadores britânicos ou irlandeses e 90 minutos de correria, passe, remate e golos. Sem os “truques” dos modelos defensivos e do rebolar no chão. Por momentos temi que até isto fosse ameaçado já que mesmo o Championship inglês é para além de um campeonato extremamente competitivo (com equipas que já venceram competições europeias… ) também uma vítima de uma “invasão” de jogadores estrangeiros de segunda linha. Felizmente enganei-me… Mas já lá vamos…
A primeira boa surpresa aconteceu ao saber que a permanência no sul do país me iria proporcionar o “Devon Derby” entre o Plymouth Argyle e o Exeter City… A má surpresa foi o preço… 23£ para um jogo do 4º Escalão Inglês. Mesmo para o nível de vida inglês é caro. Quanto mais para o nosso. Mas fazendo valer a máxima do “é uma vez na vida” lá me dirigi ao velhinho (mas renovado e bem melhor que alguns nossos estádios de primeira divisão) Home Park para ver um jogo de futebol com praticamente apenas um sentido… o da equipa da casa. Aos 14 minutos já venciam num excelente golo de livre. Antes do intervalo fizeram o 2-0 e quando o Exeter parecia próximo de um golo que lhe desse oportunidade de “relançar” o jogo chega o 3-0 já depois dos 80 minutos. Bancadas ao rubro. Mais de 11.000 pessoas (num estádio que deve levar cerca de 15.000) com cerca de 1.500 adeptos forasteiros. Números impensáveis para outros clubes que não os chamados grandes portugueses salvo raríssimas excepções.
Relembro… 4º Escalão Inglês e com a Premier League a começar nesse fim de semana. De assinalar uma forte presença policial (mesmo dentro do estádio… algo que não vi em Londres) especialmente na recepção aos adeptos do Exeter que viajaram organizados seja de comboio ou de autocarro.
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Em Londres o leque de opções não era grande. Apenas me encontrei na cidade em dia de semana mas em boa hora me “calhou” o Charlton Athletic vs Derby County. Um Estádio londrino que não conhecia (The Valley), um preço simpático (15£) e um excelente jogo de bola com duas equipas a lutar para vencer, uma com a estrelinha da sorte (Charlton), um enorme frango (do guarda-redes do Charlton) e emoção até ao final… Mas sobretudo o que mais ficou foi a lição de história que recebi relativamente ao Charlton.
Comecemos pelo inicio… Fundado em 1905 foram rapidamente considerados o maior clube em fan base na zona de Londres que ocupavam… Tão grande que provocou que outro clube da zona tivesse de mudar em 1913 para North London para evitar fechar portas… um tal de Arsenal FC fundado por operários do Arsenal Militar em Woolwich, bem perto da Thames Barrier onde foi fundado o Charlton.
Tendo o seu período dourado nas décadas de 20 e 30 os Addicks obtiam facilmente fasquias de 40.000 espectadores nessa altura, mas começou pouco depois a ser relegado para segundo plano em relação aos “gigantes” Arsenal, Tottenham , Chelsea e West Ham.
No entanto houve um período em que o Charlton esteve para desaparecer. E foi esse que me apaixonou. Em meados da década de 80, e após um delicado período financeiro, o Estádio onde (salvo uma época nos anos 20) o Charlton sempre jogou (The Valley) foi decretado inseguro. O clube não tinha dinheiro para obras e a degradação do recinto foi tomando conta até um limite insustentável. O clube foi obrigado a jogar em Upton Park (West Ham) ou Selhurst Park (Crystal Palace) e não havia solução à vista para voltar ao velhinho The Valley. Até que um grupo de adeptos se organizou, traçaram um plano financeiro, apostaram nas camadas jovens, apostaram no apoio da comunidade local e em Dezembro de 92 acontece o “milagre”: estádio remodelado e o regresso a casa. Tudo feito com o esforço dos adeptos locais e sem recorrer aos “tubarões” exóticos que agora são moda. Moda essa que também chegou ao…Charlton. Hoje é propriedade de um magnata Belga que além dos Addicks ainda possui o Standard de Liège, o FC Carl Zeiss Jena (!!!) e o espanhol Alcorcon. Claro que isto se reflete no clube… vários jogadores vieram da liga Belga e o treinador é o também belga Bob Peeters… um ex-avançado matacão que os mais “doentes” se recordarão de ter jogado contra o Benfica pelo Lierse…
Alguns números: assistência superior a 15.000 pessoas e cerca de 2.000 adeptos do Derby para um jogo a uma terça feira à noite e com uma distância superior a 200 kms entre ambas as cidades… Sintomático…
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Analisando foi óptimo regressar aos estádios ingleses das divisões secundárias. Sentir aquela paixão pelo jogo que pelo que já vi já é mais raro encontrar na Premier League. Jogos mais populares, sem hordas de turistas, sem todo aquele glamour mediático e ver jogar nomes que provavelmente nunca irei ver nas overdoses de tv…
PS: Não há nada tão britânico como a hora do intervalo em que entre as cervejas, o chá e as pies do bar se acompanham todos os resultados do futebol Inglês e Escocês nos ecrãns de tv espalhados pelos corredores... Vi isso desde a Conference até à Premier League... É transversal e fantástico...
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