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"Players lose you games, not tactics. There's so much crap talked about tactics by people who barely know how to win at dominoes." - Brian Clough
Quando era mais novo e dava os primeiros passos no Estádio da Luz tive a sorte de apanhar dos últimos anos com planteis de jogadores que sabíamos os nomes de cor. Estávamos na época de 90/91 e no banco estava o Sr. Sven-Goran Eriksson (que esta semana me surpreendeu com uma transferência para um clube da Liga Tailandesa) e há nomes nesse plantel que nunca mais esqueci. Os três guarda-redes sei na ponta da língua: Silvino, Neno e o malogrado Bento. Depois na defesa o José Carlos, o Ricardo Gomes, o William (e aquela sua maneira de bater penalidades), o Veloso e o Samuel. No meio campo havia o Valdo e o Thern , um miúdo chamado Paulo Sousa, um tal de Vitor Paneira (provavelmente o último “7” do Benfica… um “7” como atribuímos o “7” ao Eric Cantona), um jovem sueco chamado Schwarz e outro vindo da Bolívia chamado Sanchez e um extremo electrizante chamado Pacheco. Depois no ataque… Bem… Isaias, Rui Águas, Vata, o eterno Mats Magnusson e o “Joker” César Brito.
É provavelmente o último plantel em que recordo a maioria dos jogadores sem ter de recorrer aos amigos ou à internet para confirmar. Estes eu tenho a certeza que estavam no plantel de 90/91.
Porquê este meu exercício de memória?
Num ápice o Benfica vendeu 2 dos pilares do seu meio campo a troco de 60 milhões de Euros. Os adeptos indignaram-se no mundo virtual (longe vão os tempos em que o “Barbas” invadia salas de imprensa para impedir que o “menino de ouro” saísse do clube) e pouco mais há a esperar a não ser os apupos e insultos dos suspeitos do costume (as claques) que no fundo acabam por ser o último foco de “resistência” real mas cada vez mais domesticadas a aprisionadas pelos ditames da SAD do Benfica.
Existem dois prismas através dos quais quero aflorar estas duas transferências (que do ponto de vista financeiro apenas me fazem tirar o chapéu à administração da Benfica SAD e ao corpo técnico da Luz pela valorização brutal dos jogadores envolvidos).
O primeiro é o estatuto de ídolo de ambos. Javi Garcia (de Múrcia) e Axel Witsel (de Liége) eram ídolos dos Benfiquistas. Bons jogadores, giros (o público feminino delirava com o Javi Garcia), jovens e demonstravam aquela qualidade que eu mais valorizo num jogador de equipa: são constantes. Não me recordo de um mau jogo de Javi Garcia nem de um jogo mediano de Witsel.
A Luz e a sua diáspora cedo os elevaram à categoria de Deuses da Luz, algo que apenas deveria estar reservado para alguns. Era os pedidos de camisolas, era os cânticos, são os estandartes e as bandeiras. É todo um folclore que os eleva à categoria de imortais. E no entanto, Javi Garcia sai da Luz com um Campeonato Nacional e umas Taças da Liga. Para Witsel apenas a última.
O que se passa connosco?
Como podemos permitir que tenhamos chegado a este ponto sem nos interrogar? Como conseguimos chegar ao ponto em que um Luisão (eu sei, vão puxar do argumento dos contractos) com 10(!!!) épocas de Benfica seja assobiado na Luz e um jogador com 1 época e meia seja quase chorado? Como podemos permitir que o melhor goleador do Benfica desde o Rui Águas (bolas…) seja assobiado e outros com ano e meio de casa sejam vistos como salvadores de uma nova era de triunfos Benfiquistas (não é verdade Nolito?).
Será a nossa ânsia por atingir o sucesso rápido e apear o FC Porto da sua senda de vitórias? Ou ambas? Será o nosso consumismo a procurar a solução fácil? Será que ainda não percebemos que o Benfica é hoje um clube plástico sem alma? Sem respeito por si mesmo? E que os culpados somos nós?
Vou vos dar um exemplo: quem me conhece sabe que sou fan do futebol de Jorge Jesus. No entanto um dia chego à Costa da Caparica e vejo nos conhecidos restaurantes do “Barbas” telas enormes agradecendo ao JJ o Campeonato que conquistou. Como nos podemos queixar do ego gigante do JJ com exemplos destes de adeptos que sabem o que é o Benfica? O JJ almoça com frequência no “Barbas” … querem que volte à sua infância de dificuldades e apareça uma alma que lhe ensine a cartilha da humildade?
E basta recuar ao David Luiz, ao Ramires, ao Di Maria, ao Coentrão (se bem que este é de uma cepa diferente) ou avançar para o Salvio ou para o Rodrigo (sim…futurologia) para perceber que isto se repete e irá repetir… Mas meus amigos, não se iludam… a culpa não é deles…a culpa é nossa… Vendemos a nossa alma ao diabo jogo após jogo, semana após semana e agora queremos recuperar os nossos valores?
O segundo prisma é a falta de preparação do Benfica para reagir a estas duas vendas. Custa me acreditar que na SAD do Benfica (e no banco…) habitam pessoas que não acreditassem que estas duas saídas eram possíveis na dead-line. E custa-me a acreditar que o gesto de despedida do Witsel no final do jogo com o Nacional não fosse indicio de que algo estava para acontecer. E custa-me também acreditar que não repararam nisso as mesmas pessoas do banco e da tribuna, fingindo toda a surpresa do mundo quando segunda-feira uns russos aparecem vindos do nada e sem sequer negociar (ou os bancos na Russia trabalham muito bem ao fim-de-semana ou não entendo porque não bateram a clausula do contracto antes de segunda-feira) levam o Witsel debaixo do braço (e o Hulk…).
O que estou a pretender dizer é que não acredito de todo que no Benfica (e no FCP) não soubessem que estas vendas estariam para acontecer, mas como também não estão para gastar (sabe-se lá porquê) aparece uma venda já depois do prazo de inscrições sem que nada a justificasse. Foquem-se nisto: os russos chegaram e pagaram a clausula. Não esperaram pelo fecho do mercado dos principais campeonatos europeus para “negociar”. Chegarem e bateram os 40M em “cash”. Não vos faz confusão que tenham de esperar até segunda-feira para o fazer?
Qual a justificação para toda esta patranha desconheço… Sei é que 60M de Euros é bastante dinheiro e também sei que não podem ocupar a posição “6” e a posição “8”…
Qual será o preço disto tudo?
Pelo meio destas duas vendas astronómicas o Benfica entrou em campo frente ao Nacional da Madeira e após uma primeira parte miserável (e com uma assistência miserável na Luz) consegue uma vitória por 3-0. Coisas a reter desse jogo: Melgarejo melhora aos poucos mas ainda não tem qualidade para ser defesa esquerdo do Benfica, a ausência de um “trinco” de inicio foi gritante (Matic entrou e a equipa melhorou…mas bolas… é o Matic… de repente não é o melhor trinco do mundo…) e não percebi o que se passou pela cabeça do Maxi Pereira para um dos seus piores jogos de sempre no Benfica na primeira parte e o Carlos Martins do costume… com as lesões. Depois as coisas boas: o Salvio é um jogador fabuloso e acrescenta muita velocidade e qualidade ao Benfica, o Rodrigo é um menino cheio de qualidade, o Cardozo é o melhor ponta de lança no Benfica desde o Rui Águas e o Luisão ainda consegue ter capacidade para dizer à “bancada” para parar de assobiar a equipa e cumprir o seu dever de apoiar nos 90 minutos.
Agora pára o campeonato para os compromissos de selecção. E ao contrário do meu post anterior em que adivinhava o “onze” de Jorge Jesus frente ao Nacional, neste caso não tenho capacidade para entender quem irá fazer o “box-to-box”… Gaitan? Aimar? Bruno César? Carlos Martins? Miguel Rosa?
Aguardemos…
Discutir futebol é daquelas coisas que de tão simples que são, se torna o passatempo de muito boa gente. Para nós aqui em Portugal ainda vai aquecendo a alma de um País mergulhado numa crise financeira sem precedentes na última década. É fácil, é barato e dará certamente alguns milhões a quem vive desta indústria que nos inebria quase todos os dias.
Sem demoras, e aproveitando a conversa dos milhões, sigo rapidamente para o meu lugar no Estádio da Luz e analiso com estes olhos de adepto (e nada mais do que isso) a minha humilde visão do plantel do Sport Lisboa e Benfica e o que posso esperar para esta época.
Guarda-Redes
Nesta posição o Benfica está garantido. Se Artur é o titular indiscutível, Paulo Lopes chega com dois motivos: ser formado no Benfica e (ao contrário do Eduardo) estar completamente identificado com o seu papel no plantel…o banco e uns jogos de competições menores. Nada a dizer desta aquisição. Como 3º Guarda Redes temos o jovem Mika que está a rodar (e bem) na equipa B. Entre os postes estamos seguros…
Defesa
Na linha defensiva do Benfica começam os primeiros problemas. Os 4 centrais oferecem qualidade. A dupla titular é das melhores que vi no Benfica (Luisão e Garay) e apesar da forte disparidade de qualidade para os suplentes (Jardel e Miguel Vitor) não acredito que seja aí o maior dos nossos problemas. Ainda por cima os suplentes têm vindo a jogar na Equipa B. Se pelos motivos certos (rodar e dar ritmo) se pelos motivos errados (possível suspensão de Luisão) o que porventura dará garantia de ritmo para qualquer emergência.
Nas linhas laterais a questão é mais complicada.
Se do lado direito Maxi Pereira garante qualidade, a falta de uma alternativa ao lugar pode ser penosa. É dos mais básicos compêndios que um bom plantel pressupõe no mínimo dois jogadores por posição. As alternativas a Maxi Pereira neste momento são duas: um dos melhores médios que já vi no Benfica (Witsel) e um míudo saído dos juniores que dá os primeiros passos na equipa B (João Cancelo). Falhada a contratação de Sílvio (que além deste problema resolveria em parte o da lateral esquerda) o Benfica não tem uma alternativa credível para o lugar. Este problema não é de hoje (o próprio Maxi veio para jogar a médio interior direito) e deveria ser objeto de reflexão por pessoas responsáveis. Uma lesão, um castigo, uma quebra de rendimento e…
Na lateral esquerda não existe uma solução desde a adaptação de Fábio Coentrão (umas das melhores coisas que Jorge Jesus fez em toda a sua carreira). Entendo a aposta em Melgarejo, mas parece-me demasiado arriscada. Acredito que Melgarejo possa ser uma solução mas não no momento. É jovem, tem margem de progressão e tem sobretudo qualidades no campo da velocidade e do passe. Falta-lhe tudo o resto. Deveria talvez rodar na equipa B uns tempos para se adaptar à posição enquanto outro lateral esquerdo de raiz fizesse o lugar na primeira equipa. Talvez fosse essa a ideia que o Benfica teve ao tentar o empréstimo de Sílvio que por algum motivo não se concretizou. Não sei o que oferece Luisinho mas duvido que tenha qualidade para ser titular do Benfica. Resta-nos aceitar a “teimosia” de Jorge Jesus em Melgarejo e cruzar os dedos…e roer as unhas.
Meio campo
Há uns tempos atrás disse que nos faltava um médio defensivo. Não acredito muito na capacidade de Matic para ser titular do Benfica e faltava uma alternativa a Javi Garcia de forma a dar-lhe um pouco de humildade e mais concentração na forma em que jogava. Esperava uma época com alguns sobressaltos disciplinares para o espanhol… E chega o último dia de transferências e o Manchester City vem a Lisboa contratar Javi Garcia. Consigo entender o negócio mas não entendo a ausência de um "suplente".
Neste momento, para a posição “6” o Benfica apenas tem um jogador na sua principal equipa: Matic. Solução? Acredito que passe por um recuo de Axel Witsel e um meio campo formado por 2 extremos, Witsel e Carlos Martins / Aimar. Tirando o problema no miolo com a saída de Javi Garcia, o resto parece-me até demasiado. Gaitan, Nolito e Bruno César mantêm-se. Salvio regressa a uma casa que conhece e é a aquisição mais sonante do defeso. Enzo Perez volta e parece mais motivado (qualidade já mostrou que tem) e Ola John é neste momento a principal incógnita. Confesso que me impressionou quando pelo Twente defrontou o Benfica, mas neste momento penso que até se justificaria o seu empréstimo. Talvez a “price-tag” com que veio dificultou esse processo… a verdade é que até ao momento nada mostrou que justificasse a sua compra.
Ataque
Sector com demasiadas entradas e saídas. Saíram Saviola (já se justificava) e Nelson Oliveira (entendo o empréstimo e espero que volte um jogador mais maduro). Entraram e saíram Michel (para o Braga) e Hugo Vieira (para o Gijon…da II liga espanhola) e pelos vistos nos últimos minutos do mercado de transferências o Benfica comprou Lima ao Braga. Ficaram Cardozo (até ver… que o Mercado russo ainda mexe e não acredito que Lima venha para ser suplente) e Rodrigo. E Mora saiu apesar da pré-época que justificava a permanência e ficou Kardec. Não entendo.
Resumindo: um plantel mal construído e uma gestão desportivamente imprudente que nos pode custar caro. Talvez chegue para ser campeão em Portugal (apesar de considerar que o FC Porto é neste momento o favorito, mesmo com Vítor Pereira, a não ser que o mercado Russo “roube” Hulk ou Moutinho) mas provavelmente não chegará para mais uma boa prestação europeia à semelhança de anos anteriores. Vamos passar a época a confiar demasiado na ausência de lesões e em adaptações.
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